sábado, 25 de agosto de 2012

CARGOS DA NAÇÃO DJEJE


Cargos da Nação Jeje-1
Yatemi (iatemi) - denominação dada às mulheres que têm cargo de sacerdotiza após sua passagem de yao para um grau superior, sete anos após a iniciação. O prefixo Ìyá é de origem Anágò e significa Mãe. Em língua Fon a palavra mãe se grafa como Nà, anɔ̀, naé, năjinɔ̀, nɔ̀ e yă (palavra de origem Anágò) que perdeu a vogal inicial I e foi assimilada pelo povo Fon como: Yă.
Neste caso a grafia Yatemi está fundida com a palavra de origem Fon ‘Etémìn ou Etémì‘ termo que faz alusão àqueles que adquiriram grau superior, ou seja, que completaram seus 7 anos. A palavra equivalente em língua Anágò seria Ègbónmí (irmão mais velho). A palavra Fon Etémìn ou Etémì não confere grau de sacerdote ou sacerdotisa, apenas faz alusão àquele ou àquela que é mais velho.
Babatemi (babatemi) - Denominação dada aos homens que têm cargo de sacerdote após sua passagem de yao para um grau superior, sete anos após a iniciação. O prefixo Bàbá é de origem Anágò e significa Pai. Em língua Fon se grafa como Tɔ́, atɔ́, daá, dadá, dεέ.
Hunsó (runssó) - mãe pequena
Grafa-se: Hùnsɔ̀. (pronuncia: Runsó)
Se grafarmos Hùnsò (pronuncia: Runsô) Teremos a tradução: Hùn = Vodún + Sò = Raio. Ou seja, diríamos Vodún do Raio. Um adjetivo para o vodún Sògbò.
Dehe (deré) - vodunsi responsável por todos os atins mágicos usados nos rituais.
Grafa-se: Dεlὲ. (pronuncia: Deré) * No Fon a letra “L” tem som de “R”.
Dehe-vitu (deré vitu) - cargo que substitui a mãe-pequena.
Grafa-se: Dεlὲ vitù.
Done (doné) - Cargo dado às vodunsis filhas dos voduns da família de Heviosso. Em cada axé só pode haver uma. (Jeje Brasil) Grafa-se: Donὲ.
Dote (doté) - Cargo dado aos vodunsis feitos de voduns da família de Heviosso. Em cada axé só pode haver um. (Jeje Brasil) Grafa-se: Dotὲ. 
  Gaiaku (gaiacú) – Cargo dado às mulheres sacerdotizas. Segundo alguns informantes somente pessoas de Agué, Naetê, Agbe, Yemanja, Loko e Lisa podem ter esse cargo. Outros dizem que toda zeladora pode usá-lo. Grafa-se: Gayàkú. No Benin este atributo é utilizado por pessoas consagradas ao vodún Agὲ, pois segundo alguns nativos, este nome faz alusão a um devoto de Agὲ. (pronuncia: Agué).
Megitó (megitó) – Cargo dado às mães de santo que já fizeram voduns em suas casas. Alguns dizem que todas as pessoas feitas de voduns da família de Dan são megitó. Vale ressaltar que o primeiro Jeje do Rio de Janeiro foi fundado por dona Megito que era de Vodum Jô. Grafa-se: Mεjitɔ́. Qualquer pessoa que tenha gerado descendentes religiosos pode utilizar esta condição. A palavra vale tanto para o sexo masculino quanto feminino. Quando se faz uso para sacerdote é necessário esclarecer que é por ter gerado descendentes religiosos e não por ter parido biologicamente um ser.
Pegigan - Primeiro ogam feito na casa, responsável por todo os pejis da casa.
Grafa-se: Kpεjígán. Significa: Kpεjí = sobre o altar + Gán = senhor. Trazendo a idéia de ”Senhor que zela o altar”. Ou ainda: Kpεn = pedra + Jí = verbo gerar + Gán = senhor. Trazendo idéia de “O senhor que gera (ou dá a vida) à pedra”.
Bagigan – Ogam responsável pelas folhas
Grafa-se como: Agbajìgán. Agbajì = pátio + Gán = senhor. Ou seja: o senhor que cuida ou zela do pátio, que por coincidência é onde estão plantadas as folhas.
Gaimkpè (gaimpé) - Terceiro sacerdote (ogam). Acompanha a mãe/pai de santo em todos os fundamentos de uma ahama (barco de iniciação).
Grafa-se: Gán Ipè (pronuncia: Gan ipê).
Hundeva (rundêvá) - sacerdote responsável pelas cerimônias de nahunos (iniciação).
Grafa-se: Hùndévà. 
 Abose (abôssé) – Responsável pelos carregos e segurança da casa, normalmente é dado a um filho de Gu, pois o vodum também toma cargo.
Grafa-se: Agbósὲ (pronuncia: Abôssé).
Hun to (rum tó) – dono do tambor. Responsável pelos atabaques, cantigas e rezas.
Grafa-se: Gánhǔntɔ́. (pronuncia: Gan rruntó) Vale lembrar que Hǔn significa: tambor largo e Tɔ́ significa: proprietário. Considerando que Gán (senhor) não é e nunca será pai, pois numa família só pode existir um pai e uma mãe, temos: “O senhor proprietário do tambor”.
A palavra Gán é de origem Fon e significa Senhor.
Não devemos confundir com a palavra Anágò Ògá que significa Chefe, mas que também é utilizada pelo povo Anágò para fazer alusão à pessoa que ocupa o mesmo cargo.
Hunhoto (runhôtô) – tocador de tambor.
Grafa-se: Hùnxótɔ́ (pronúncia: Runrrôtó) significa: tocador de tambor.
A palavra Fon: Ayihúndátɔ́ significa: tocador.
Huno (runô) - cargo semelhante ao ogam Rundevá.
Grafa-se: Hùnòn ou Hùnò. Onde: Hùn = vodún + Nòn = sacerdote. Ou seja: sacerdote de vodun.
Abasa (abassá) – Ogam responsável pela sala (barracão). Todos os preceitos de sala são feitos por ele. Cabe também a ele receber e acomodar as visitas.
Grafa-se: Agbásà. Significa: pátio ou área externa. O ‘Gàn’ (senhor) que realiza esta atribuição é o Agbásàgán. Na língua Fon se utiliza a forma ‘Gán’. Possivelmente a palavra Ogan foi assimilada no Brasil da língua Anágò que grafa: Ògá. E que faz alusão ao mesmo cargo.
A palavra Fon ‘Gán’ significa também ferro.
Equedji - Auxiliar da zeladora/zelador
Grafa-se: Ekèjí (pronuncia: Êkêdji). Significa: O segundo de um par. 
 Gonzegan – Ekedji responsável pelo grã - já se sabe que esta é a ekedji das gonzens e não há segredo nenhum. Grafa-se: Gonzengán.
Emilecè - é o que carrega o Acé do okukale. Gostaria de obter esclarecimentos sobre esta ocupação para melhor entender.
Dogan (dôgan) - pessoa responsável pela comida dos voduns. Esse cargo pode ser ocupado tanto por uma ekedji como por um vodunsi. )
Grafa-se: Dàgán (tradução: Dà = preparar comida + gán = senhor).
Lebasi - Filhos de Legba Grafa-se: Lε̆gbàsí.
Togunsi – Filhos de Gu Grafa-se: Gǔnsí.
Otolusi – Filhos de Otolu Grafa-se: Otólùsí.
Aguési – Filhos de Ágüe Grafa-se: Agὲsí.
Sakpatasi - Filhos de Sakpata Grafa-se: Sakpatásí.
Lokosi (lôcôssi) – Filhos de Loko Grafa-se: Lòkósí.
Hunhó (runhó) - Vodunsi filho de Sobo, Hevioso, etc.
Grafa-se: Hùnyɔ̀ (tradução: Hùn = Vodún + yɔ̀ = Fogo).
Tobosi – filhas de Aziri, Tobosi, Oxum.
Grafa-se: Tɔgbosí. (tradução: Tɔ = água corrente + Gbo = grande quantidade + Así = Esposa). 
 Nanansi ou Nanã – Filhos de Nanã. Na África os iniciados de Nana, sejam vodunsis ou não, recebem na frente de seus nomes ou cargo a palavra Nana. Grafa-se: Nànásí.
Lisasi ou Agamavi - Filhos de Lisa Grafa-se: Lisàsí (tradução: Lisà = albino + Así = esposa)
Grafa-se: Aganmàví (tradução: Aganmà = camaleão + Ví = filho ou descendente).
Hunva (runvá) - Denominação dada ao neófito quando ele é o único de uma ahama.
Grafa-se: Hùnvà.
Kunbona (cumbona) – zeladora. Usa-se tanto para a sacerdotisa quanto para o vodum dono da casa. Grafa-se: Kǔngbónà.
Kunbono (cumbônô) zelador: usa-se tanto para o sacerdote quanto para o vodum dono da casa.
Grafa-se: Kǔngbónò.
Hunbona (roumbona) – primeira filha feita na casa. Grafa-se: Hùngbónà.
Hunbono (roumbonô) - primeiro filho feito na casa. Grafa-se: Hùngbónò.
Vodunsihe (vodunsirrê) - Pessoa feita no Jeje Mina. Os mahis denominam as pessoas feitas que não entram em transe como vodunsihe, ogans e ekedjis são um exemplo. Grafa-se: Vodúnsí he
Dofono (dôfôno) - Palavra que designa o primeiro neófito de uma ahama.
Grafa-se: Dòfònun.
Dofonitinho (dôfônitinho) - Palavra que designa o segundo neófito de uma ahama.
Grafa-se: Dòfònuntín. Na língua Fon não existe o dígrafo nh. 
  Fomo (fômô) - Palavra que designa o terceiro neófito de uma ahama.
Grafa-se: Fòmò ou Yòmò.
Fomutinho (fômutinho) - Palavra que designa o quarto neófito de uma ahama.
Grafa-se: Fòmòtín.
Gamo (gâmo) - Palavra que designa o quinto neófito de uma ahama.
Grafa-se: Gamò ou Nògamò.
Gamutinho (gâmutinho) - Palavra que designa o sexto neófito de uma ahama.
Grafa-se: Gamòtín ou Nògamòtín.
Vimu (vimu) - Palavra que designa o sétimo neófito de uma ahama.
Grafa-se: Vimun.
Vimutinho (vimutinho) - Palavra que designa o oitavo neófito de uma ahama.
Grafa-se: Vimuntín.
Trimu (trimu) - Palavra que designa o nono neófito de uma ahama.
Grafa-se: Tlὲnò (pronuncia: Tréno)
Trimutinho (trimutinho) - Palavra que designa o décimo neófito de uma ahama.
Grafa-se: Tlὲnòtín.
Dimu (dimu) - Palavra que designa o décimo primeiro neófito de uma ahama.
Grafa-se: Dimun.
Dimuntinho (dimuntinho) - Palavra que designa o décimo segundo neófito de uma ahama.
Grafa-se: Dimuntín. 
 Untu (úntu) - Palavra que designa o décimo terceiro neófito de uma ahama.
Untinho (untinho) - Palavra que designa o décimo quarto neófito de uma ahama.
Tunji (funji) - Palavra que designa o décimo quinto neófito de uma ahama.
Tunjinho (funjinho) - Palavra que designa o décimo sexto neófito de uma ahama.
Matéria da falecida Doné Jurema de Aveji Da
Acertos gramaticais de Ayiwedo

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O Vodun Legbá e a classificação do panteão Vodun

O Culto de Legbá

Legbá (Lεgbà, em fongbé) é um Vodun muito importante, tanto no Benin como na diáspora, por ser aquele que tem como atributos ser o protetor e o mensageiro entre os homens e os Voduns. Cultuado pela totalidade das Casas de Jeji no Brasil (exceto na Casa das Minas “Kwlegbetan Zomadonu”)  e em todos os Hùnkpámè (conventos de Vodun) do Benin, este Vodun é louvado e oferendado no ritual do Zandró. No Brasil não é feito e nem entra em transe, não tendo vodunsì. No Benin há vodunsì dedicadas a estes voduns, recebendo a denominação de legbásì.
Legbá é o correspondente Jeji do orixá Exu dos yorubás. É o filho mais jovem do par Mawu-Lisá ou Dadá-Segbo. Seu assentamento é um montículo de barro com um falo ereto, representação de sua relação com a sexualidade masculina, e com dois chifres. Possui ligações com Ayizan e Xorokwe.
Legbá sempre é cultuado primeiro, do que qualquer Vodun, esta regra jamais é esquecida pelo povo Fon, pois é ele que se encarrega de deixar passar qualquer tipo de oferenda seja a que Vodun for. Mesmo nos casos de descarrego e outros tipos de interversão espiritual praticada seja por qualquer sacerdote e de qualquer culto espiritual (vale ressaltar, porém, que no Brasil, em rituais como o Zàndró, a primeira divindade reverenciada é Ayizan). Está encarregado em vigiar o bom andamento e atitudes do ser humano, seja benéficas ou maléficas e se incumbirá das devidas cobranças.
Também deve-se citar que Legbá, é o unico Vodun masculino que tem acesso ao mundo espiritual das Kenesi (senhoras poderosas e grande Mãe Ancestre, feiticeiras, podendo ser consideradas como correspondentes às Iyami da tradição yorubá).
A reverência a Legbá no jeji mahi se dá no zandró, onde pedimos a ele que se mantenha atento, e para que leve nossa mensagem aos demais voduns. O ritual do padé ou ipadé é nagô, não pertencendo à tradição jeji e nem é próprio para se louvar Legbá.
O dia dedicado à Legbá é a segunda-feira, juntamente com Xorokwé, Ogun, a família de
Sakpatá
e Ayizan. Sua cor é o vermelho, o multicolorido e o transparente
Na tradição africana, pode-se encontar também várias formas de Legbá:
*Agbonuxosu – rei do portal, é um pequeno Legbá feito de argila, situado no portão.
*Axi-Legbá – é o Legba dos caminhos.
*Tó-Legbá – é o Legba de uma cidade, ou de uma aldeia.
*Fá-Legbá - protege o Fá, perto do qual ele reside, estando a frente de Fá. É o Legbá do oráculo, que traz a mensagem no jogo.

A classificação do panteão Vodun

Legbá, por ser aquele que “a tudo está ligado”, tem ligações com todos os voduns, sendo o wensagún (mensageiro) entre eles. Na tradição africana podemos encontrar vários grupos ou clãs de voduns, sendo Legbá pertencente a todos estes clãs.
Há os Voduns da terra encabeçados por Sakpatá, conhecidos também como Ayi-voduns, e há os voduns do alto ou do céu encabeçados por Heviosò ou Xebyosò, e Mäwü-Lisà conhecidos também como Ji-voduns. Destes dois grandes grupos pode-se fazer outras sub-divisões, e ainda existem outras divisões a parte, assim temos:
* Os sò-voduns (voduns do raio), liderados pelo Vodun Heviosò/Sògbó;
* Os tò-voduns (voduns das águas), liderados pelo Vodun Xú;
* Os zùn-voduns (voduns das florestas), a exemplo de Aziza e Agè (Agué);
* Os  Atinmɛ̀-voduns (voduns do interior das árvores), a exemplo de Lökö e Zonodo ou Azawonodo;
* Os tó-voduns (voduns de uma determinada aldeia, povo ou reino);
* Os Hε̆nnù-voduns (voduns de uma determinada família ou clã), cada um liderado pelo seu Hε̆nnùgán (patriarca);
* Os jono-voduns (voduns estrangeiros), a exemplo dos anagonus (Oxun, Yemanjá, Ogun, Oyá (ou Avesan em Abomey), Odé, etc).
No Brasil, porém, podemos nos deter a três divisões básicas se tratando do jeji mahi:
* Dan ou Família da Serpente, incluindo todos os voduns serpentes e que são liderados por Dangbè ou Gbèsén;
* Heviosò/Kaviono ou Família do Trovão, que inclui todos os ji-voduns, sò-voduns e tò-voduns e que são liderados pelo vodun Sògbó.
* Sakpatá ou Família da Terra, que inclui todos os ayi-voduns e azon-voduns (voduns doentes) e os jono-voduns e que são liderados pelo vodun Azonsú ou Azansú.
Legbá, igualmente no Brasil, está ligado a estas três grandes famílias. Legbá conhece tudo e sabe falar todas as línguas.
Legbá protege e defende!
Un j’avalu hùn Legbá!